As emoções são, por vezes, um território desconhecido para muitos de nós. Um território que nos assusta, com o qual não estamos confortáveis.
Não controlamos nada, e muitas vezes durante a nossa vida ficamos sem chão.
Nem sempre temos a resposta imediata para as razões pelas quais passamos determinadas provações.
É exactamente nestas fases/passagens/travessias que importa sermos bondosos connosco mesmos e com os outros.
É exactamente na caminhada que importa corrigir pensamentos, ajustar percepções e questionar os padrões e condicionamentos com os quais nos identificámos durante tanto tempo.
O controlo emocional é um tema cultural e geracional que re-visitamos sempre que algo drástico acontece: uma catástrofe, uma mudança brusca, uma ruptura, uma perda, uma desilusão, uma experiência limite.
Libertar emoções é verdadeiramente curativo e purificador.
Conseguirmos sentar-nos e meditar com a nossa dor, raiva ou tristeza, tal como meditamos com a nossa paz, ou bem-estar, é uma prova de coragem, humildade e vontade de evoluir.
A vida não é dual, a vida apenas é, a dualidade vem da nossa interpretação da vida, na realidade que criamos na nossa mente.
Aceitar a vida como é não é sermos passivos e impotentes com o que acontece. É dar o primeiro passo para sair da resistência, racionalização excessiva ou ilusões às quais nos agarramos desesperadamente.
Nesta fase em que estamos todos a ser abanados pela vida, há que observar, mas, também, ter consciência que o processo de transformação consciente não se dá sozinho. É preciso algum foco e a capacidade mental, emocional e energética de digerir as experiências.
A vida é uma benção, mas aprender a viver é uma capacidade que nunca se pára de desenvolver ao longo da vida.
O conhecimento que acumulámos nem sempre nos traz todas as respostas.
É preciso reflectir, dar o foco e tempo à nossa reflexão, e dar espaço ao silêncio que nos ajuda a escutar a voz interna e a direcção deste Agora.
É preciso ficarmos confortáveis com o nosso desconforto.
É preciso não resistir.
É preciso compreender as raízes profundas e subconscientes das nossas limitações.
É preciso deixar a criança interior chorar, para que a possamos confortar.
É preciso encaixar todas as peças do puzzle confuso do nosso ser, para conseguirmos ver um reflexo mais puro de quem somos.
Em profunda reverência pela água que me rodeia, me ligo às minhas águas internas:
Escuto os riachos mais delicados e dou-lhes voz, surfo o tsunami mais assustador e desfruto desse vôo.
Que o outono nos ensine a deixar ir.
Que o outono nos ensine a apaziguarmo-nos com o que morre.
Que o outono seja o nosso aliado e lhe saibamos agradecer pelo espaço que fica.
Que saibamos escutar a vida, para além das nossas interpretações.
Que saibamos que o tempo de integração é tão importante como o tempo da acção.
Que haja qualidade no nosso foco.
Que haja profundidade na nossa prática.
Que a felicidade seja uma conquista desse mergulho de enfrentar os medos.
E que os medos dêm lugar à confiança.
Que a confiança seja a mão sábia que nos ajuda a destilar todos os novelos da nossa confusão.